domingo, 20 de janeiro de 2008

INDIVIDUALIDADE

Por Maria Saavedra

Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o início deste milênio.
As relações afetivas também estão passando por profundas transformações, principalmente a relação você com você mesmo.
O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de ir se reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; ele se alimenta da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral.
Infelizmente com a rapidez que as mudanças estão ocorrendo, o homem está assustado, sem tempo no seu dia-a-dia para equilibrar-se, harmonizar-se, gerando medos, incertezas.
Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, trabalhando sua individualidade, se conhecendo, se interiorizando, meditando, afastando os seus medos, definindo o que é importante nos diversos momentos de sua vida, mais preparado estará para uma boa relação afetiva consigo e com o mundo que criou.
A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades.
E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso, ao contrário, dá dignidade à pessoa.
O que se busca hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer de estar consigo mesmo, e não mais uma relação de dependência com alguém, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A idéia de uma pessoa ser o remédio para nossa felicidade, que nasceu com o romantismo está fadada a desaparecer neste início de século.
O amor romântico parte da premissa de que somos uma fração e precisamos encontrar nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona suas características para se amalgamar ao projeto masculino.
A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei. Se eu sou manso, ele deve ser agressivo e assim por diante. Uma idéia prática de sobrevivência e pouco romântica por sinal.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas deveriam estar atentas a isto, vencendo o pavor de ficarem sozinhas convivendo melhor consigo mesmas, apesar das clínicas estarem cheias de pessoas com síndrome de pânico, por pura falta de conhecimento de si mesmas.
As pessoas deveriam perceber que se sentem fração, mas são inteiras. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém. Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gêmea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto, para “nos salvar dos nossos fantasmas...”.
Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas para estabelecer um diálogo interno e descobrir sua força pessoal. Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro dele mesmo, e não a partir do outro.
Ao perceber isso, ele se torna menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação, há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado.
Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem de aprender a perdoar a si mesmo, para restabelecer a alegria de se amar e viver plenamente neste início de milênio!!!

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